O aprendizado

Atualizado em 17/05/2016
Por Carlos Lima

O aprendizado

Atualizado em 17/05/2016
Por Carlos Lima

Independentemente da forma como ocorre o aprendizado, estudo, observação, tentativa, prática, o processo do ponto de vista mental, intelectual, é sempre o mesmo. Isto significa que para aprendermos algo, nosso cérebro segue um mesmo caminho. Considero extremamente importante compreendermos este caminho, uma vez que isto vai nos ajudar imensamente nos nossos processos de aprendizagem, além de trazer luz para as relações com pessoas que escolhem ignorar novidades, ou apresentam dificuldades em desenvolver novas habilidades ou se mantêm dentro de crenças limitantes, repetindo os mesmos comportamentos.

Entendo também, que quando se fala em habilidade, fala-se em um conjunto de comportamentos, que colocados numa dada ordem, produzem um determinado resultado. Na prática significa que se conhecemos comportamentos e sabemos ordena-los, desenvolveremos uma habilidade e obteremos resultados favoráveis, para nós, para o outro e para o meio. Por outro lado, se desconhecemos determinados comportamentos ou se não sabemos como ordena-los, estaremos nos esforçando em vão para obtermos respostas. Isto é desperdício, de tempo, de esforços, de dinheiro.

Para tornar o texto mais palatável, recorrerei a uma figura metafórica, onde explicitarei os quatro níveis do aprendizado, confortos, desconfortos, escolhas e conseqüências de cada um. Para tal chamarei cada nível de Realidade. Para cada uma delas procurarei exemplificar de outra forma também.

Imagina que há na região onde você mora um belíssimo parque natural, com muitos recursos de lazer, diversão, entretenimento, companhia, locais para meditação, ar puro, trilhas, enfim, um paraíso na terra e bem perto de você e, infelizmente você ignora tudo isto. Pronto, esta é a Primeira Realidade.

 

Primeira Realidade: “Não sei que não sei”!

Dizemos aqui que estamos em incompetência inconsciente. Nunca pensamos no tal parque. É um estado muito confortável, desconhecemos e, portanto ignoramos determinada informação, comportamento, habilidade ou até mesmo crença. Provavelmente, até aqui, você desconhecia como ocorre efetivamente o processo de aprendizagem, e vivia sem desconforto com relação a isto. Na verdade, talvez até, você nunca tinha pensado sobre isto. Existem milhares de coisas para as quais somos incompetentes inconscientemente. Existem muitas coisas sobre as quais nunca pensamos que existem. É o estado da ignorância, com conotação de desconhecimento e não no sentido pejorativo.

Vamos imaginar, por exemplo, a evolução do processo de aprendizado sobre “saber dirigir”. Provavelmente até os quatro ou cinco anos, você nunca tenha pensado sobre dirigir, você andava ou não de automóvel e esta suposta habilidade, de dirigir, era completamente ignorada por você. Ou ainda, imagine alguém que nasceu e mora em zona rural, daquelas bem tradicionais, em que o uso do automóvel é restrito ou raro. As pessoas “andam” de carro, sem considerar a hipótese de poder dirigir aquilo, apenas utilizam o transporte. Extremamente confortável não é? A pessoa não tem a menor preocupação em como operar aquela máquina, o carro.

Observe, que muitas vezes você usufrui algo, sem ter a menor noção de como se faz para aquilo funcionar e não se preocupa nem um pouco com isto. Poderíamos citar dezenas de exemplos: “saber comer e nunca se preocupar em saber cozinhar”, “vestir roupas e nunca se preocupei em saber costurar”, e assim por diante. Além disto, existe a incompetência inconsciente, diante de situações que você nunca viveu. Alguns índios, por exemplo, jamais usaram roupas, sequer sabem que elas existem.

Pois bem, da mesma forma que ser incompetente inconscientemente é confortável, também é limitador. Enquanto aprendiz, seu papel é explicitar cada vez mais um número maior de competências que ainda não tem, sair da zona de conforto, com foco em promover o seu crescimento.

É óbvio que sempre haverá situações nas quais você nunca pensou e que em nada interferirão em sua vida.

 

Segunda Realidade: “Sei que não sei”!

Agora você está em Incompetência Consciente. Algum dia alguém te fala do parque, ou simplesmente o mostra à distância e você fica meio pasmo, como não soube disto até hoje? Ocorre quando você toma consciência que aquilo existe, e pensa sobre que não sabe sobre aquilo. Você não sabe nada ao respeito do parque. Pode ser um estado confortável ou desconfortável. Descobrir que você não sabe cozinhar e escolher que vai continuar sem aprender, conscientemente, ou considerar que aprender a cozinhar é importante, e que você simplesmente não sabe faze-lo. Na primeira situação, o estado é confortável, na segunda é desconfortável. Você passa a ter consciência das suas ignorâncias e pode fazer escolhas diante delas.

No exemplo de saber dirigir, ali pelos 6 a 8 anos de idade, você tomou consciência que não sabia faze-lo. Você podia até assentar-se ao volante e “fingir” que estava dirigindo, plenamente sabedor de que “não sabia” fazer aquilo. Este estado durou até você tentar dirigir pela primeira vez e confirmar que de fato você não sabia.

Do ponto de vista pessoal, de carreira, profissional, manter-se em incompetência consciente com conforto é extremamente negativo. “Eu sei que não sei fazer e não estou nem aí para isto”! Os profissionais à sua volta que aceitarem isto como desafio, vão crescer e você corre o risco de ficar “marcando passinho”, numa carreira que se arrasta, com pouco ou nenhum crescimento, técnico, financeiro, social.

Pense nisto quando abordar seus desconhecimentos: estado de incompetência consciente que é bom é o desconfortável. Querer aprender! Ampliar a zona de conforto! Saber mais, sempre! Se você estiver achando confortável não quer aprender, saiba que este comportamento vai dificultar seu trabalho, sua carreira, suas vitórias e suas recompensas.

Portanto, aprenda a aprender, aprenda a se estimular a aprender. Vale a pena!

 

Terceira Realidade: “Sei, se prestar muita atenção”!

Esta realidade não tem escolha, é desconfortável. Agora você está na Competência Consciente. Provavelmente você está assim, diante deste texto, prestando atenção, tentando entender, lê um pouco, pensa, volta, lê de novo, imagina algumas possibilidades, compara com informações que você já tem, lê novamente, tenta memorizar, cria mecanismos internos para gravar as informações, contesta algumas, tendendo a voltar para o conforto da incompetência consciente ou mesmo inconsciente. “Vou desistir, este troço é muito complicado!” Ou pior: “Para que eu vou aprender isto, já vivi bem até hoje sem isto!” Caso você esteja pensando assim, cuidado, você começa a “contar passinhos” de novo, e seu crescimento vai para as cucuias (ou para um lugar mais longe).

Agora você está explorando o parque, conhecendo espaços, errando e acertando trajetos, ficando perdido as vezes, o medo de não saber voltar, medo das dificuldades, quase não consegue apreciar as belezas.

Voltemos ao exemplo de saber dirigir. Nesta Realidade você está com um instrutor, ou tentando sozinho. Seu corpo está tenso sobre o banco do carro, suas pernas insistem em tremer, sua cabeça até dói. Em tom de brincadeira costumo dizer que dirigir é algo aparentemente impossível: temos duas pernas e são três pedais; exige-se que se mantenham as duas mãos ao volante e é preciso mudar as marchas; tem que se observar o trânsito, lá fora e ao mesmo tempo o painel do carro, cá dentro; acionar setas, olhar os sinais luminosos, abrir e fechar as janelas, ouvir o guarda, conversar com quem te acompanha, ligar e desligar o som, o ar condicionado, acender e apagar os faróis, lembrar de soltar o freio de estacionamento, usar as marchas certas, ver os pedestres, desviar de outros carros, dar passagem, fazer as conversões adequadamente, caramba…é muita coisa! É, aprender é bem doloroso! Exige dedicação, atenção, e, acima de tudo, repetição. Aqui está o segredo: REPETIÇÃO.

Enquanto aprendiz o mais importante até aqui é privilegiar e tornar o nível da competência consciente mais atrativo, com apoio, celebração, correção de comportamentos, respeitando o seu tempo. É um nível que demanda dedicação, lembra? Uma ação seguida da outra

 

Quarta Realidade: “Sei”!

Agora sim, conforto total, depois da longa caminhada, o prêmio, você faz naturalmente. Agora sua Competência está Inconsciente. Não é mais preciso esforço, você conhece, faz com grande tranqüilidade. Para se chegar aqui o segredo foi a repetição, o insistir, o errar e alterar, o acertar e ficar feliz, até que se tem destreza, expertise.

O parque já é um lugar sem segredos, você pode ir e vir, está orientado, pode apreciar as belezas, explorar novidades, orientar pessoas, parar para descansar, relaxar e ser feliz, crescer.

No exemplo do dirigir, você consegue fazer tudo aquilo com naturalidade, simplesmente entra no carro e dirige, todos os cuidados observados. Como é fácil fazer! Você não tem a menor noção do que é capaz de fazer inconscientemente, simplesmente você faz: escovar dentes, calçar sapatos, vestir roupas, andar, atravessar uma rua, olhar as horas, fazer contas simples, ler, comer, tomar banho, dirigir, e óbvio, mandar bem em provas e concursos!

Felizmente a vida é dinâmica, lembra que na incompetência inconsciente há conforto e um grande risco da ignorância! Curioso, aqui também há conforto, e é claro, também há riscos, graves! Imagina que você já sabe fazer algo, muito bem, e insiste que não há outra forma para fazer aquilo. Pronto! Incompetência Inconsciente de novo. “Sempre fiz deste jeito e sempre funcionou, para que mudar?” Voltou a história do “contar passinhos”, de travar a carreira, de limitar crescimento cultural e financeiro, de estagnar socialmente.

Portanto, enquanto aprendiz, fique atento quando o excesso de conforto da competência inconsciente surgir. Preste atenção em informações que ainda são desconhecidas e que podem alavancar melhores resultados para você. Ficar satisfeito com a competência inconsciente é, portanto, um risco.

Dizemos que o caminho da aprendizagem se inicia na primeira Realidade e se encerra na quarta Realidade, chamamos isto de aprender.

O segredo não está aí. Na verdade o que conta é a disposição de desaprender, sair da competência inconsciente e voltar para a incompetência consciente (segunda Realidade) e então reaprender, de volta à quarta Realidade, continuamente.

O que distingue os gênios dos idiotas, é que os primeiros dizem que nunca sabem o suficiente, enquanto os segundos dizem que já sabem tudo! Pense nisto!

Saiba também, e principalmente, que quando se engaja emoção o processo de aprendizagem é extremamente rápido. Isto acontece nos traumas, por exemplo e acontece com aquele aprendiz que é estimulado com recursos (elogios, atenção, celebração, felicitação, sorrisos).

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Carlos Lima, aqui no Blog.
Médico pela UFMG (1984), especialista em Psicoterapias Breves, Hipnose Ericksoniana, mais de 7400 pessoas atendidas em consultório, em pelo menos 50 mil horas de trabalho. Trainer in NLP (Neurolinguistic Programming), tendo ministrado mais de 20.000 entre palestras e treinamentos comportamentais em mais de 250 empresas de diversos portes e áreas de atuação.

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